domingo, 6 de outubro de 2013

A evolução de Neymar

A contratação de Neymar, concretizada no mês de julho, apesar de comemorada por muitos que acreditavam no potencial do então santista, gerou bastante controvérsia em uma boa parcela da torcida do Barcelona. O estilo midiático, a extravagância em roupas e cabelos, o costume de simular faltas, a inexperiência na Europa, a falta de boas atuações pela seleção nacional, a fama de "fominha", dentre outros, eram fatores que faziam muitos torcerem o nariz para o jovem brasileiro. Além do mais, o exorbitante valor de 57 Milhões de Euros (dos quais apenas 17 foram para a transferência propriamente dita, como comprovado pelo Santos F.C., ficando o restante do valor com destino nebuloso) por um jogador que atuava em um clube brasileiro, só possuía mais um ano de contrato e cuja multa rescisória era de 65 Milhões causou enorme descontentamento. Some-se a tudo isso a descrença que muitos nutriam com relação ao jogador, de quem diziam que teria um futuro decepcionante no futebol semelhante ao seu amigo e também cria do Santos, Robinho.
Porém, após uma excelente Copa das Confederações, campeonato que foi eleito o melhor jogador, Neymar  já chegou à Cataluña com muito mais moral. E após uma pré temporada um tanto quanto tímida, já deslumbra quem  o vê jogar e mostra claramente que poderá fazer uma dupla fatal e histórica com Lionel Messi. Ainda como reserva, entrou no time no segundo tempo da primeira partida da Supercopa da Espanha contra o Atlético de Madrid e marcou de cabeça o gol que viria render ao Barça o título de campeão. Melhorias gradativas lhe deram um lugar de titular da equipe, que ele tem honrado bastante.
Taticamente, Neymar voltou a trazer à equipe algo que vinha faltando ultimamente: intensidade nos lados. Com Alexis, Pedro e Villa jogando mal e Cristian Tello sendo pouco utilizado, a equipe não conseguia fazer boas jogadas ofensivas pelas alas, encontrava mais dificuldade para penetrar em defesas, sobrecarregava Messi no meio e tornava-se cada vez mais dependente do argentino. Embora que a opção (dele ou de Tata Martino) por um posicionamento excessivamente aberto limite seu futebol ao afastá-lo do gol adversário, além da certa "timidez" que vem apresentando na hora de tentar marcar gols, Neymar tem posto fogo no setor direito das defesas rivais com toda a sua técnica: arrancadas, dribles, assistências... o repertório do brasileiro tem sido um dos pilares da liderança do Barcelona no Campeonato Espanhol, conseguida mediante oito vitórias em oito jogos.
E o melhor de tudo é a perspectiva de futuro. Muitos dos mais otimistas sequer acreditavam que Neymar teria uma adaptação tão rápida ao novo clube, já tendo se tornado uma peça tão importante. Nos dois últimos jogos, nos quais Messi esteve machucado, Neymar foi o principal jogador ofensivo do time, tendo até sido colocado por Martino no centro do ataque contra o Valladolid, já que o técnico percebeu que Cesc Fábregas, um criador de jogadas, não tem o poder ofensivo necessário pra se dar bem por alí. Obviamente nenhum time consegue ser o mesmo quando não tem o melhor jogador do mundo, mas Neymar curou o marasmo que a equipe apresentava quando entrava em campo sem La Pulga, criando jogadas, causando perigo e provocando faltas, o que foi preponderante na obtenção mais duas vitórias para o Barça. Combinando toda a sua técnica com experiência, um posicionamento que extraia o melhor dele e mais ímpeto pra tentar marcar gols, Neymar tem tudo pra fazer história como parceiro de Lionel Messi, com quem tem feito excelentes jogadas e dado muitas assistências. O porvir tem todos os ingredientes necessários para ser brilhante.

sábado, 21 de setembro de 2013

Notas sobre Rayo Vallecano 0x4 Barcelona

- O Barcelona venceu por um placar largo, mas não jogou bem. Ainda assim, há uma ampla quantidade de fatores que podem justificar. A equipe de ainda mais tempo para se adaptar às mudanças promovidas pela nova comissão técnica para que o futebol apresentado seja o melhor possível. Por ora, é importante que o time saiba vencer mesmo enquanto ainda não tiver chegado à sua melhor forma.

- Uma estatística amplamente comentada foi a posse de bola: 51% x 49% a favor do Rayo Vallecano e lá se vai uma série de 316 jogos tendo predomínio da posse de bola. A verdade é que o Barcelona agora  possui um estilo mais direto, busca mais as jogadas ofensivas, e por consequência, assume mais o risco de perder a bola. O gramado ruim, aliado à postura ofensiva e marcação adiantada adotados pelo Rayo Vallecano impediram o Barça de trocar mais passes.

- A opção por um estilo mais direto já serve como motivo para críticas não merecidas ao trabalho de Tata Martino. O Barcelona deve usar o seu estilo para buscar as vitórias, não buscar o seu estilo e se manter imutável a custo de se tornar-se previsível frente aos rivais e minguar suas possibilidades de conquistar títulos. Ainda há tempo para o time aprender propriamente o momento de jogar por passes curtos ou longos e saber se defender melhor, já que ser mais objetivo também acarreta menos controle. Desde a temporada 2011/2012 que já era possível enxergar que eram necessárias novas vias para a forma do time jogar. O risco existe, mas é como tudo na vida. Vale a pena corrê-lo.

- Essa exposição na defesa tem dado espaço ara que apareçam mais os jogadores de retaguarda, positivamente ou negativamente. Piqué segue mal. Mascherano vai fazendo boas partidas. E Victor Valdés vai vivendo provavelmente o melhor momento de sua carreira. Hoje, duas defesas à queima-roupa e um pênalti pego que poderia igualar o placar em 1x1 configuraram uma excelente partida do goleiro blaugrana.

- Por fim, as exibições individuais. Montoya decepcionou com erros na defesa e nulidade no ataque (espera-se que tenha sido apenas reflexo da falta de ritmo); Piqué não passou confiabilidade alguma; Cesc e Xavi mostraram muito pouco. Neymar tentou bastante inclusive chegando a dar um chute na trave e uma assistência, mas teve um índice erros considerável. Positivamente, destacaram-se Song, roubando bolas e distribuindo, Messi, que buscou jogo e criou oportunidades que não renderam mais graças à má partida da equipe no geral, e Pedro, que apareceu bem posicionado e soube finalizar certo pra fazer os três gols que constituíram em um trunfo em sua disputa com Alexis pela titularidade.

O Barcelona voltará a campo no dia 24 de setembro, às 15:00hs, contra a Real Sociedad, no Camp Nou.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Rayo Vallecano X Barcelona: A importância de rotacionar o elenco e os jogadores que precisam atuar

Depois de uma sequência de adversários como Málaga, Valencia, Sevilla e Ajax, o Barcelona vai amanhã a Madrid enfrentar uma equipe teoricamente menos qualificada: o Rayo Valecano. O jogo será às 15:00hs, horário de Brasília. Essa pode ser a hora correta para levar a campo uma equipe com mais das necessárias rotações.

É absolutamente necessário preservar jogadores. A marcação por pressão, felizmente readotada por Martino, tem a contrapartida de exigir muito fisicamente dos jogadores, que podem chegar à parte decisiva da temporada destruídos se não ganharem descanso adequado ao longo dela. Fora que a quantidade de partidas, o nível dos adversários,  as viagens e etc. por si só já são deveras desgastantes. Outra necessidade importante é a de criar opções para a equipe. Mesmo quando se encontra a melhor formação e escalação para o time jogar, essa não deve ser a única: a equipe precisa de alternativas para não ficar previsível perante os adversários. Mudar peças é um fator preponderante no futebol, que também é um jogo de estratégia.

Como os últimos adversário foram duros, Tata Martino esteve limitado para modificar o time, escalando a equipe com uma ou outra mudança para o usual. E geralmente essas mudanças consistiam em jogadores que teoricamente são "reservas" mas que costumam aparecer com demasiada frequência entre os 11 titulares, como Fàbregas, Adriano e Pedro. Mas o elenco também possui outros jogadores qualificados, criados na base do clube e que precisam jogar sobretudo para que desenvolvam o seu potencial.

O lateral direito Martín Montoya surpreendentemente ainda não entrou em campo em partidas oficiais nessa temporada. Apesar de também preterido por Tito Vilanova na temporada passada, o canterano quando entrava sempre mostrava mais futebol que o titular da posição, Daniel Alves, acertando muito mais quando chegava à frente e  guarnecendo melhor a retaguarda. Essa proteção à defesa viria muito a calhar, pois com a mudança de Abidal para Jordi Alba, um lateral defensivo, por outro ofensivo, a defesa ficou muito exposta. Montoya poderia equilibrar melhor as subidas com Jordi Alba para não deixar a desefa fragilizada. ele teve oportunidade de entrar em duas partidas na temporada passada contra o Real Madrid e foi muito bem. Como o lateral só tem contrato até o meio de 2014, começam a preocupar os rumores de que ele poderia sair até de graça devido à falta de minutos.

O zagueiro Marc Bartra estreou na temporada contra o Ajax, mas teve um 2012-2013 de pouquíssimos minutos em campo. Nas primeiras oportunidades que recebeu, correspondeu, como no jogo da Champions League passada contra o Celtic pela fase de grupos no Camp Nou. Nessa partida Bartra deu conta do recado quando foi exigido atrás, saiu pro jogo com propriedade e até subiu ao ataque com consciência. Mostrou um estilo de jogo muito parecido como o de Gerard Piqué. No entanto, Bartra foi esquecido no banco, mesmo com as constantes lesões de Carles Puyol. O resultado foi ter voltado a campo por obrigação apenas nas partidas finais da temporada, sem ritmo e sem confiança. O resultado foi uma partida muito ruim contra o Bayern na Alemanha, o que infelizmente manchou a sua imagem.

O meio-campista Sergi Roberto é recém-promovido do time B. Aponta-se ele como reposição para Thiago Alcântara, que foi ao Bayern de Munique. Sergi tem bastante qualidade técnica e perspectiva de futuro, embora não tanto quanto Thiago. Além do mais, são estilos diferentes: Thiago, como organizador de jogo, se preparava para herdar a posição de Xavi, enquanto Sergi tem um estilo mais próximo do de Fàbregas, criando jogadas ofensivas e chegando à frente. O fato é que até agora Sergi pouco jogou na temporada e precisa de minutos em campo para desenvolver seu futebol. Pode vir a se tornar um excelente jogador de rotação, e é interessante que se experimente ele fazendo a função do Xavi.

Jonatan dos Santos foi o que menos jogou na temporada passada e o que menos deve jogar nessa também. Sua perspectiva de ser uma opção recorrente no meio foi minguada em 2012 com a contratação de Alex Song. Seu empréstimo foi proposto por Tito Vilanova no ano passado e neste, mas o jogador insistiu em ficar. Tata Martino aceitou que ele ficasse, muito provavelmente por que queria conhecer o futebol do jogador antes de tirar conclusões sobre ele. Segundo o Migeru, taticamente, o mexicano é o que há de mais parecido com Xavi, mas deve muito no aspecto técnico para as outras opções do elenco.

O atacante Cristian Tello é outro injustiçado. Enquanto Pedro, Alexis e Villa viviam fases ruins na temporada passada, Tello sempre que aparecia jogava bem e marcava gols. O problema era quando aparecia (muito pouco). Em campo, apresenta estilo parecido com o de Arjen Robben, ainda que jogando na esquerda e sendo destro, ao contrário do holandês: velocidade, corte pra dentro e chute colocado. Jogou na ponta direita contra o Sevilla, o que pode justificar sua má atuação naquela partida, mas terá de melhorar ali para conseguir mais minutos em campo já que Neymar a partir de agora deve reinar na esquerda.

Particularmente, eu levaria a campo um time com Victor Valdés, Montoya, Mascherano, Bartra, Adriano, Busquets (ou Song), Sergi Roberto, Fàbregas, Pedro, Messi e Tello. Substituiria Mascherano por Piqué e Messi por Neymar no segundo tempo. Há um risco, certamente, já que um tropeço contra o Rayo pode significar muito na briga pela ponta com o Real Madrid. Risco esse que deve ser posto na balança com os malefícios de escalar sempre os mesmos jogadores. O risco certamente pesará menos, além do mais, a rotação acaba se revelando muito melhor a longo prazo.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Barcelona 4x0 Ajax

Ontem aconteceu no Camp Nou a tão esperada estréia do Barcelona na Champions League 2013/2014. O clube catalão recebeu o Ajax, clube com o qual mantém um importante laço histórico, tendo praticamente "importado" sua filosofia atual do clube holandês, através de Cruyff. Hoje em dia o Ajax já não possui a força de outrora que o levou a ser um time dominante na Europa durante longo tempo, mas ainda é um adversário relativamente perigoso, como demonstrou a partir da segunda metade do primeiro tempo.

Tata Martino colocou o Barça em campo com: Victor Valdés, Daniel Alves, Mascherano, Piqué, Adriano, Busquets, Fàbregas, Iniesta, Alexis, Messi e Neymar, enquanto Frank de Boer, que já jogou nas duas equipes, escalou o Ajax com Vermeer, Van Rhijn, Moisander, Poulsen, Duarte, Sigthorsson, De Jong, Bojan, Boilesen, Blind, e Denswil.

Xavi havia sido titular no fim de semana contra o Sevilla, talvez daí venha a escolha de poupá-lo ontem, para não desgastar o meio-campista de 33 anos que na última temporada começou a sentir o peso da idade. Desde a saída de Thiago Alcântara, o time não tem outro jogador que possa cumprir apropriadamente a função de organizador de jogo, que orquestre a equipe desde a saída  de bola, passando pela distribuição no meio, controlando a forma de jogar do time e chegando à frente com passes e infiltrações. Assim sendo, não havia opção muito diferente de escalar Fàbregas e Iniesta, dois criadores de jogadas de ataque. Com essa configuração, o time ganha em verticalidade e objetividade, mas abdica de ter o controle e o ritmo da partida nas mãos.

O jogo começou com grande domínio de posse de bola (como usual) por parte do Barcelona, que por outro lado, não conseguia usar positivamente essa posse, já que errava muitos passes, encontrava um Ajax bastante recuado e contava com uma partida apagada de uma grande parte de seus jogadores: Messi, até então inoperante; Daniel Alves, Fàbregas e Iniesta errando os passes que tentavam, falhando em criar perigo; Neymar buscando jogadas objetivas, mas esbarrando no seu posicionamento excessivamente aberto (muito provavelmente por orientação do técnico) o que tornava mais difícil as suas ações; e Alexis Sánchez, também bastante aberto, mas sem buscar a diagonal, o que lhe deixava inefetivo, e  além disso errando algumas das ações que tentava.

Quando o quadro da partida começava a preocupar, o melhor do mundo começou a aparecer. Em um descida para o ataque relativamente perigosa por volta dos 21 minutos do primeiro tempo, Messi sofreu falta perto da área. Ele mesmo bateu, com maestria, do lado direito de Vermeer. A bola bateu na trave e entrou. 1x0.

Após isso, não houve saída para o Ajax a não ser se lançar à frente. Os holandeses erravam passes bisonhos, mas foram melhorando até chegar, ainda que sem levar perigo, à meta de Victor Valdés. Até o fim do primeiro tempo, a posse de bola tinha ficado mais equilibrada com as tentativas do Ajax (outra evidência da mudança gerada no time com a ausência de Xavi). O jogo melhorou, ainda que não necessariamente para o Barcelona.

O time veio para o segundo tempo com uma mudança: Alexis ficou no meio do ataque, invertendo a posição com Messi. Uma mudança bastante louvável para trazer variação à equipe, ainda que Messi, mesmo buscando a movimentação em direção ao gol e a flutuação, também tenha ficado muito aberto, e Alexis, apesar de ter feito bem o trabalho tático de ocupar a posição de "centroavante", prendendo a defesa, tenha perdido determinadas oportunidades que lhe apareceram, já que não é um bom finalizador e portanto não consegue cumprir tecnicamente essa função de modo adequado.

O Barcelona continuou sem absoluto domínio da posse, ainda que sendo consideravelmente melhor que o Ajax. Busquets deu um bom passe para Messi cortar a zaga e chutar no gol, fazendo o segundo aos 10 do segundo tempo. Então o Ajax começou a crescer. Duarte  foi o jogador que causou perigo mais vezes, em lances nos quais Victor Valdés deu conta do recado.

Aos 24 do segundo tempo, Neymar, após escanteio, deu um bom cruzamento pra Piqué ampliar, 3x0. Xavi entrou em campo aos 26, o que fez o time controlar a partida e crescer significantemente. Aos 30, em um lance onde Alexis se moveu para frente arrastando dois zagueiros e deixando mais espaço para Messi, o argentino chutou de frente pro gol para dar números finais: 4x0. Esta jogada mostrou como é importante que às vezes o time tenha uma referência na área para atrair defensores, deixando La Pulga mais livre de marcação. No fim do jogo, Mascherano derrubou Sigthorssen na área. Boilesen bateu no canto direito de Victor Valdés, coroando sua ótima fase com mais uma boa partida.

Em linhas gerais, o Barcelona, apesar do resultado, não jogou muito bem. Tranquiliza saber que Tata Martino sabe disso, como afirmou para a imprensa, e vai seguir trabalhando para que a equipe apresente mais controle e intensidade. Ainda há muito o que se fazer, mas não há motivo para desespero. O time ainda tem condições de ser melhor do que foi hoje. A próxima partida é contra o Rayo Vallecano, no sábado, fora de casa, pelo Espanhol.